Dicas dos 20 melhores livros para ler em 2020
1. Sobre os Ossos dos Mortos, de Olga Tokarczuk
Essa senhora polonesa recebeu o prêmio Nobel em 2018 e, se você ainda não a conhece, corra agora para a conhecer.
A autora prodígio que apesar da pouca idade já coleciona prêmios nos conta nesse romance a história da protagonista Janina Duszejko, uma senhora de sessenta anos apaixonada por animais.
Já atingi uma idade e, além disso, um estado em que, antes de me deitar, devia lavar muito bem os pés, no caso de uma ambulância ter de me levar durante a Noite.
Janina mora em um vilarejo afastado com dois cães. Seu drama se inicia quando os cachorros desaparecem – e, para completar o mistério, na pacata região duas pessoas aparecem mortas também sem motivo.
Esse enredo cheio de questões serve de pretexto para uma autora madura refletir sobre as questões filosóficas da vida.
2. O ano do pensamento mágico, de Joan Didion
O luto é dos temas mais duros que um escritor pode abordar. Joan Didion enfrenta, no entanto, com uma coragem ímpar, o desafio proposto. O ano do pensamento mágico é uma obra autobiográfica que foi escrita a partir da experiência da autora de ter perdido o marido de modo repentino.
Antes de ser um livro pesado ou deprimente, a abordagem escolhida pela escritora é a da honestidade absoluta e a da transmissão de dados recolhidos a partir de investigações científicas. Sim, Didion foi a procura de uma série de estudos sobre o luto para ajudá-la a compreender melhor o que estava se passando no seu próprio corpo.
Generosamente esses ensinamentos foram partilhados com o leitor, que encerra a leitura do livro muito mais rico e consciente da finitude da vida:
Não tinha feito alterações naquele documento desde que escrevera as palavras, em maio de 2004, um dia ou dois ou três depois do sucedido.
A vida muda num instante.
Um instante normal.
Em algum momento, com vista a poder lembrar-me daquilo que parecia mais assinalável sobre o que se passara, considerei acrescentar aquelas palavras: «um instante normal». Vi de imediato que não havia necessidade de acrescentar a palavra «normal», porque jamais o esqueceria: a palavra nunca abandonou a minha mente. De fato, era a natureza normal de tudo o que precedera o acontecimento que me impediu de acreditar que aquilo sucedera verdadeiramente, e de o absorver, incorporar, ultrapassar.
Com uma linguagem simples, coloquial, e uma entrega total – uma honestidade avassaladora – ficamos conhecendo o sofrimento de Didion, que é igual ao de todos nós que já perdemos uma pessoa querida.
Ao invés de nos esquivarmos da morte, o livro nos faz pensar sobre o assunto de uma maneira desdramatizada e realista, dando ferramentas para melhor digerirmos esse processo terrível que é o luto.
O ano do pensamento mágico é um livro essencial para todos aqueles que passaram por uma grande perda ou para aqueles que ainda irão passar, afinal de contas, a morte é inerente à vida.
Recomendamos veementemente a leitura dessa pequena obra-prima!
3. Don Juan (Narrado por Ele Mesmo), de Peter Handke
O vencedor do último prêmio Nobel de Literatura é Peter Handke, um autor e dramaturgo austríaco que merece mesmo ser conhecido.
Uma das suas obras mais celebradas é Don Juan (Narrado por Ele Mesmo), que conta a história de um homem solitário que faz da leitura o seu principal hobby. Cozinheiro de profissão, sempre que pode mergulha nas páginas dos livros.
De tanto gostar de ler, um dia, de súbito, o icônico personagem da literatura Don Juan aparece no seu quintal dando início a um diálogo interessante, curioso e original.
Don Juan sempre estivera à procura de um ouvinte. E foi em mim que, um belo dia, o encontrou. Sua história, não me contou em primeira pessoa, mas em terceira. Pelo menos é assim que me vem à memória agora.
4. A revolução dos bichos, de George Orwell
Em tempos politicamente cada vez mais conturbados, vale ler novamente A revolução dos bichos, um clássico escrito por George Orwell.
A fábula que foi publicada em 1945 permanece atual até os dias de hoje e a sua leitura nos faz embarcar em um mundo paralelo que, ao contrário do que possa parecer a primeira vista, tem muito a ver com o nosso.
A história se passa na Granja do Solar, onde uma série de bichos se reúne para fazer uma revolução. São galinhas, pombas, cachorros, cavalos, vacas, cabras, burros e ovelhas que possuem características humanas.
Liderados pelos porcos – considerados os mais inteligentes do grupo -, os animais desejam dar fim à exploração feita pelo senhor Jones, o dono da quinta:
Então, camaradas, qual é a natureza da nossa vida? Enfrentemos a realidade: nossa vida é miserável, trabalhosa e curta. Nascemos, recebemos o mínimo de alimento necessário para continuar respirando e os que podem trabalhar são forçados a fazê-lo até a última parcela de suas forças; no instante em que nossa utilidade acaba, trucidam-nos com hedionda crueldade. Nenhum animal, na Inglaterra, sabe o que é felicidade ou lazer, após completar um ano de vida. Nenhum animal, na Inglaterra, é livre. A vida de um animal é feita de miséria e escravidão: essa é a verdade nua e crua. Será isso, apenas, a ordem natural das coisas? Será esta nossa terra tão pobre que não ofereça condições de vida decente aos seus habitantes? Não, camaradas, mil vezes não!
Com muito custo o proprietário acaba por ser expulso da sua quinta e os animais tomam a frente da quinta, criando um novo tipo de sociedade, igualitária e baseada na não exploração.
A leitura de A revolução dos bichos é repleta de humor e nos faz pensar sobre a nossa própria sociedade, o sistema de trabalho, as condições de vida, a desigualdade.
Apesar de a narrativa ser construída como uma fábula e protagonizada por bichos, A revolução dos bichos aborda essencialmente a condição humana e a tendência de oprimirmos (ou sermos oprimidos).
Recomendamos a leitura porque acreditamos que a obra-prima de George Orwell pode ser um excelente pontapé inicial para começarmos o ano instigando uma severa crítica social.
A revolução dos bichos encontra-se disponível para download gratuito em formato pdf.
Conheça também uma análise de A revolução dos bichos, de George Orwell.
5. Os da minha rua, de Ondjaki
Ondjaki é o pseudônimo do escritor Ndalu de Almeida, um dos maiores nomes da literatura contemporânea angolana.
O livro Os da minha rua reúne breves histórias independentes que traçam um panorama da infância vivida pelo autor em Luanda.
O Jika era o mais novo da minha rua. Assim: o Tibas era o mais velho, depois havia o Bruno Ferraz, eu e o Jika. Nós até às vezes lhe protegíamos doutros mais velhos que vinham fazer confusão na nossa rua. O almoço na minha casa era perto do meio-dia. Às vezes quase à 1h.
Com uma forte pegada autobiográfica, o livro consegue ser ao mesmo tempo pessoal e universal porque fala de uma infância específica embora nós, leitores, também sintamos essas breves histórias ecoarem dentro de nós, falando das nossas próprias experiências singulares.
6. A Arte Subtil de Saber Dizer que se F*da, de Mark Manson
Publicado no princípio de 2018, o livro de Mark Manson é duro, cru, mas ao mesmo tempo extremamente honesto e tece uma crítica à sociedade contemporânea que se habituou ao pensamento positivo.
Cheio de humor, ao longo dos nove capítulos vemos aspectos essenciais da vida serem abordados a partir de um ponto de vista original.
O leitor que aceitar o desafio proposto pela leitura certamente sairá com um olhar “fora da caixinha” porque o que Mark Manson faz é desconstruir lugares comuns. Um exemplo pode ser encontrado no capítulo 3, intitulado “Você não é especial”.
Ao contrário do que a sociedade tenta incutir, somos confrontados com a dura realidade de que somos mais um no meio da multidão, sofrendo de inseguranças e medos similares.
A escrita de Manson é anti o sonho americano, anti as histórias perfeitas, de superação, anti a felicidade plena idealizada. Trata-se de um elogio ao ser humano comum, médio, com os seus altos e baixos. A Arte Subtil de Saber Dizer que se F*da é uma tentativa de deixar o sujeito confortável com a sua própria condição e com os seus fracassos.
Com uma linguagem super informal, que simula uma conversa de bar, a criação de Mark Manson conquista o leitor porque trata de assuntos densos contemporâneos com extrema leveza:
Ironicamente, esta fixação no positivo — no que é melhor, no que é superior — apenas serve para nos recordar constantemente aquilo que não somos, aquilo que nos falta, aquilo que devíamos ter sido mas não conseguimos ser. Afinal, uma pessoa realmente feliz não sente necessidade de se postar diante de um espelho a entoar que é feliz. Apenas é.
Se desejar experimentar um pouco mais a escrita de Manson, as primeiras páginas de A Arte Subtil de Saber Dizer que se F*da estão disponíveis online para download gratuito.
7. Sapiens: História Breve da Humanidade, de Yuval Noah Harari
O autor de Sapiens: História Breve da Humanidade é Yuval Harari, um historiador (doutor em História pela Universidade de Oxford) e professor da Universidade Hebraica de Jerusalém.
Em seu best-seller ficamos conhecendo o processo de evolução da espécie humana pelo planeta. A partir de uma perspectiva interdisciplinar e científica, descobrimos o percurso do homem na Terra.
Aprendemos o que se passou nesse período de 70.000 anos da história humana e somos apresentados as revoluções que o homem promoveu ao longo do tempo (vale sublinhar as três maiores revoluções da espécie: a Revolução Cognitiva, a Revolução Agrícola e a Revolução Científica).
Percebemos, ao longo da leitura, como somos uma espécie ao lado de tantas outras e como a nossa existência individual é provisória e insignificante perante a noção de grupo. Ao contrário da cultura contemporânea – que nos faz crer que somos sujeitos únicos e especiais – Harari abre uma grande angular e nos mostra que fazemos parte de um sistema muito mais amplo:
Há cerca de 13,5 bilhões de anos, a matéria, a energia, o tempo e o espaço surgiram naquilo que é conhecido como o Big Bang. A história dessas características fundamentais do nosso universo é denominada física.
Por volta de 300 mil anos após seu surgimento, a matéria e a energia começaram a se aglutinar em estruturas complexas, chamadas átomos, que então se combinaram em moléculas. A história dos átomos, das moléculas e de suas interações é denominada química.
Há cerca de 3,8 bilhões de anos, em um planeta chamado Terra, certas moléculas se combinaram para formar estruturas particularmente grandes e complexas chamadas organismos. A história dos organismos é denominada biologia.
Em Sapiens: História Breve da Humanidade voltamos para o passado e testemunhamos o surgimento da matéria e da energia, o começo da física e da química, o aparecimento de átomos e moléculas – e depois somos remetidos para o futuro (será o homo sapiens substituído por super-humanos?).
Entre esses dois períodos aprendemos os eventos mais importantes para a espécie humana e como ela foi capaz de superar os desafios impostos pelas circunstâncias.
8. O dilema do porco-espinho, de Leandro Karnal
O livro do historiador Leandro Karnal gira em torno de uma das maiores questões contemporâneas: a solidão.
A obra não enfoca apenas na solidão literal – no estar sozinho propriamente dito – mas também na sensação de solidão que persiste mesmo quando estamos acompanhados.
Em O dilema do porco espinho vemos um apanhado de ensinamentos recolhidos de diversos filósofos e pensadores – retirados inclusive da própria Bíblia – e nos perguntamos: por que nos sentimos sozinhos? A solidão é necessariamente má? Como podemos processa-la de modo saudável?
A explicação do título do livro pode ser encontrada já nas primeiras páginas e é um mote que guiará toda a narrativa:
Somos uma espécie de porco-espinho, pensava o filósofo Arthur Schopenhauer. Por quê? O frio do inverno (ou da solidão) nos castiga. Para buscar o calor do corpo alheio, ficamos próximos dos outros. Efeito inevitável do movimento: os espinhos nos perfuram e causam dor (e os nossos a eles). O incômodo nos afasta. Ficamos isolados novamente. O frio aumenta, e tentamos voltar ao convívio com o mesmo resultado.
A metáfora do filósofo alemão trata do dilema do humano: solitários, somos livres, porém passamos frio. A dois ou em grupo as diferenças causam dores.
Indicamos a leitura da obra de Karnal para começarmos o ano cientes das nossas questões interiores e interessados em explorarmos mais sobre a nossa condição de seres humanos solitários.
9. Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust
Um clássico que nunca perde a validade, essa talvez seja a melhor definição para caracterizar a obra-prima do escritor francês Marcel Proust.
Um mergulho no passado, e especialmente na infância e na juventude do protagonista, é o que o leitor irá encontrar quando imergir no universo desse clássico da literatura francesa.
A leitura embala o leitor e o atravessa de tal maneira que a determinado momento parece ser impossível largar o livro.
A verdade é que no passado de Marcel encontramos um pouco do passado de todos nós: as descobertas, as aventuras, as primeiras paixões, o entusiasmo juvenil.
Lembremos aqui da clássica passagem da madaleine, talvez a mais citada da obra, quando o protagonista é transportado no tempo de volta à infância depois de comer um biscoito:
Ela então mandou buscar um desses biscoitos curtos e rechonchudos chamados madeleines, que parecem ter sido moldados na valva estriada de uma concha de São Tiago. E logo, maquinalmente, acabrunhado pelo dia tristonho e a perspectiva de um dia seguinte sombrio, levei à boca uma colherada de chá onde deixara amolecer um pedaço de madeleine. Mas no mesmo instante em que esse gole, misturado com os farelos do biscoito, tocou meu paladar, estremeci, atento ao que se passava de extraordinário em mim. Invadira-me um prazer delicioso, isolado, sem a noção de sua causa. (…) E de súbito a lembrança me apareceu. Aquele gosto era o do pedacinho de madeleine que minha tia Léonie me dava aos domingos pela manhã em Combray (porque nesse dia eu não saía antes da hora da missa), quando ia lhe dar bom-dia no seu quarto, depois de mergulhá-lo em sua infusão de chá ou de tília.
Com uma linguagem extremamente simples e acessível somos convidados a conhecer o cotidiano desse rapazinho ingênuo que queria ser escritor.
A dica de leitura de Em Busca do Tempo Perdido para o ano a seguir provavelmente irá ocupar também os seus próximos anos uma vez que Proust foi prolixo: as edições de Em Busca do Tempo Perdido são compostas por sete volumes.
Acredite, vale a pena embarcar nesse teletransporte para o passado e se deliciar com as descobertas feita por ele – Marcel – e por nós mesmos ao longo do trajeto.
Os sete tomos de Em Busca do Tempo Perdido encontram-se disponíveis para download gratuito em português.
10. Felicidade Clandestina, de Clarice Lispector
A reunião de contos intitulada Felicidade clandestina não é nova – na verdade foi lançada em 1971 -, mas merece ser lembrada aqui devido a sua beleza e profundidade.
A obra reúne 25 textos curtos (alguns deles chegaram a ser publicados como crônicas no Jornal do Brasil) e tem como tema o amor, a família, a solidão, a estranheza, as angústias existenciais e o descompasso com mundo.
A escrita – muitas vezes composta em estilo fluxo de consciência e com um traço autobiográfico – deixa ver a impressão digital da autora Clarice Lispector.
Com a sua sensibilidade ímpar lemos, por exemplo, o conto Amor, narrado em terceira pessoa, que traz como protagonista Ana, uma mulher comum: mãe, esposa, dona de casa, com um cotidiano vulgar.
Um belo dia, andando de bonde, Ana vê um cego mascando chiclete. Dessa imagem surge um profundo questionamento existencial que a inquieta e a faz considerar todos os aspectos da sua vida pessoal. Amor é uma pequena obra-prima de Clarice Lispector.
Indicamos a leitura de Felicidade clandestina a espera que você se delicie com pérolas como os contos O ovo e a galinha, Menino a bico de pena e Restos do carnaval.
Conheça mais sobre o livro Felicidade Clandestina.
11. Terra Sonâmbula, de Mia Couto
Considerado dos doze melhores livros africanos do século XX, Terra Sonâmbula talvez seja o livro mais consagrado do escritor moçambicano Mia Couto.
Vale lembrar que o autor recebeu em 2013 o Prêmio Camões, o mais importante galardão da literatura de língua portuguesa.
Publicado em 1992, Terra Sonâmbula está dividido em onze capítulos e lembra muito a escrita de Guimarães Rosa – além de ser extremamente poética, é intimamente relacionada à sua terra.
O título faz uma referência à situação política e social de Moçambique, que passou por uma dura guerra civil durante anos a fio (1977-1992). Sonâmbula é uma maneira de sublinhar como aquele território não teve descanso.
Com uma história que mescla sonho e realidade, ficamos conhecendo os protagonistas Muidinga e Tuahir. O primeiro personagem perdeu a memória e o segundo é um velho sábio da região que passa a guiar Muidinga depois da guerra.
Conhecido por compor uma prosa regionalista, que se apropria da linguagem local e das lendas e mitos da região, o romance irá conduzi-lo por horizontes inimagináveis. Indicamos esse clássico da literatura africana para todos aqueles que, em 2020, pretendem descobrir uma nova cultura.
12. Sejamos todos feministas, de Chimamanda Ngozi Adichie
Sejamos todos feministas surgiu a partir de uma palestra feita pela escritora Chimamanda Ngozi Adichie em dezembro de 2012 no TEDxEuston.
Aos catorze anos a então menina já era chamada de feminista pelo melhor amigo Okoloma. Foi desde então que resolveu pesquisar e se aprofundar no assunto.
Mulher, negra, africana, feminista, Chimamanda em seu texto questiona todos os estereótipos que lhe são impostos e, a partir de exemplos cotidianos, mostra o quão preconceituosa é a sociedade que vivemos:
Não faz muito tempo, ao entrar num dos melhores hotéis na Nigéria, um segurança na porta me parou e fez umas perguntas irritantes: Nome? Número do quarto da pessoa que eu visitava? Eu conhecia essa pessoa? Poderia provar que era hóspede do hotel e mostrar a minha chave? Ele automaticamente supôs que uma mulher nigeriana e desacompanhada só podia ser prostituta.
A palestra de Chimamanda – agora transcrita para livro – é essencial para nos darmos conta de como em 2020 ainda nos deparamos com discriminações que não fazem qualquer sentido.
Recomendamos veementemente a leitura e esperamos que os questionamentos fomentados por ela mobilizem ações – nem que sejam pequenas – no ano a seguir.
O livro Sejamos todos feministas encontra-se disponível para download gratuito em formato pdf.
13. Toda poesia, de Paulo Leminski
Toda poesia, do brasileiro Paulo Leminski, reúne a enorme produção do poeta em um só lugar.
Se você é amante de poesia ou pelo menos tem curiosidade acerca dos versos, vale a pena se debruçar sobre esse título que é considerado das maiores antologias já publicadas no país.
O livro abarca poemas já conhecidos do grande público como “Incenso fosse música”:
isso de querer
ser exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além
Mas também traz a tona uma série de escritos que pareciam ter se perdido no tempo em publicações pontuais e com pouca tiragem.
A lírica de Leminski é extremamente coloquial, com fortes traços de humor e descontração. Seus poemas podem servir de trilha sonora ou legenda para alguns dos momentos importantes das nossas vidas e merecem ser celebrados e partilhados com os mais chegados.
Conheça também Os 10 melhores poemas de Leminski.
Toda poesia está disponível para download sem custos em formato pdf.
14. Fim, de Fernanda Torres
O romance de estreia da até então atriz Fernanda Torres é marcado por um humor avassalador. Fim narra a história do final de vida de cinco amigos, velhos moradores de Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro.
Já caminhando para a morte, os amigos se reúnem e lembram momentos marcantes da vida como as conquistas amorosas, as traições, as aventuras da juventude – tudo marcado com um misto de saudosismo e comicidade.
Longe de ser um romance trágico por abordar o fim da vida, o que Fim faz é encontrar graça em existências tão ricas de experiência.
Para dar uma prova ao leitor de como será essa bem humorada experiência de leitura, trazemos aqui um trechinho da fala de Álvaro, um dos protagonistas:
Morte lenta ao luso infame que inventou a calçada portuguesa. Maldito d. Manuel I e sua corja de tenentes Eusébios. Quadrados de pedregulho irregular socados à mão. À mão! É claro que ia soltar, ninguém reparou que ia soltar? Branco, preto, branco, preto, as ondas do mar de Copacabana. De que me servem as ondas do mar de Copacabana? Me deem chão liso, sem protuberâncias calcárias. Mosaico estúpido. Mania de mosaico. Joga concreto em cima e aplaina. Buraco, cratera, pedra solta, bueiro-bomba. Depois dos setenta a vida se transforma numa interminável corrida de obstáculos.
Fim é dividido em cinco capítulos que correspondem aos nomes dos amigos – Álvaro, Sílvio, Ribeiro, Neto e Ciro – e ao início de cada capítulo consta a data de nascimento e morte de cada um deles (como em um epitáfio).
Entre a data de nascimento e a data da morte testemunhamos aventuras de dar gargalhada altas e fazer corar se estiver em espaços públicos.
Recomendamos o título de Fernanda Torres para o leitor que deseja passar 2020 de uma maneira leve e divertida.
Ouça um trecho de Fim, lido pela própria Fernanda Torres:
15. Mindfulness – atenção plena, de Mark Williams e Danny Penman
Vivemos em um mundo contemporâneo assolado pela pressa, pelo excesso de informações e pela solidão.
Relatórios das organizações mundiais de saúde já apontam que a Depressão e a Ansiedade serão dos grandes males do próximo século. Na tentativa de informar as pessoas e mudar o rumo dessa trágica constatação, Mindfulness – atenção plena, foi publicado.
O livro reúne o criador da terapia cognitiva com base na atenção plena (Mark Williams) e um jornalista (Danny Penman) que trazem ao público um programa de oito semanas que promete fazer com que o leitor mude a sua perspectiva diante da vida.
A ideia é exercitar meditações diárias, simples e de curta duração, que permitam desenvolver a capacidade de atenção plena.
Você consegue se lembrar da última vez que esteve deitado na cama lutando contra seus pensamentos? Você queria que sua mente se acalmasse, apenas se aquietasse, para que pudesse adormecer. Mas nada funcionava. Cada vez que se forçava a não pensar, seus pensamentos explodiam com força renovada. Você dizia a si mesmo que não deveria se preocupar, mas subitamente descobria inúmeras novas preocupações. Virava de um lado para outro tentando encontrar uma posição mais confortável. Não adiantava. Conforme a noite avançava, sua força progressivamente se exauria, e você se sentia frágil e fracassado. Na hora que o despertador tocava, você estava exausto, mal-humorado e destruído. (…) Por isso escrevemos este livro: para ajudar você a encontrar a paz e o contentamento numa época frenética como a nossa. Ou melhor, a redescobrir a paz e o contentamento, pois existem profundas fontes de tranquilidade dentro de todos nós, embora estejamos confusos e cansados demais para perceber.
Indicamos a leitura de Mindfulness – atenção plena desejando que o seu ano de 2020 seja mais consciente, menos atribulado e com mais auto-conhecimento.
Julgamos que o livro oferece ferramentas importantes para o mergulho interior e para a prática de uma vida mais saudável do ponto de vista emocional.
16. Nenhum olhar, de José Luís Peixoto
Você é daqueles que adora um bom romance? Então anote na sua lista a obra-prima Nenhum olhar, escrita pelo autor português José Luís Peixoto, vencedora do Prêmio José Saramago.
A história se passa no interior de Portugal – para ser mais precisa, em uma aldeia situada no Alentejo – e tem uma pegada extremamente poética.
A linguagem utilizada é profundamente lírica e delicada:
O ar queima, como se fosse um bafo quente de lume, e não ar simples de respirar, como se a tarde não quisesse já morrer e começasse aqui a hora do calor. Não há nuvens, há riscos brancos, muito finos, desfiados de nuvens. E o céu, daqui, parece fresco, parece a água limpa de um açude. Penso: talvez o céu seja um mar grande de água doce e talvez a gente não ande debaixo do céu mas em cima dele; talvez a gente veja as coisas ao contrário e a terra seja como um céu e quando a gente morre, quando a gente morre, talvez a gente caia e se afunde no céu.
A narrativa se passa em um ambiente de extrema pobreza e os personagens supostamente reais se misturam com criaturas alegóricas, dando origem a um universo triste e fantasioso, repleto de silêncios e mistério.
O universo pintado com maestria por José Luís Peixoto é também pleno de ternura e de beleza, por esse motivo aconselhamos cheios de convicção a leitura de Nenhum olhar.
17. Breves respostas para grandes questões, de Stephen Hawking
Breves respostas para grandes questões foi o último livro publicado por Stephen Hawking, uma referência nos estudos de física e cosmologia.
O título foi publicado no ano da sua morte (2018) – o cientista faleceu em março e o livro foi lançado em novembro – e procura fazer uma reunião dos seus trabalhos mais importantes.
A ideia da publicação é sintetizar os grandes temas que mobilizaram a atenção do pesquisador e partilha-los com o grande público.
Vemos, ao longo das páginas, questões polêmicas serem levantadas como, por exemplo, a existência de Deus. Hawking olha para trás e se questiona sobre a origem do universo, mas também olha para frente e expõe os seus receios com o futuro do planeta devido ao aquecimento global.
O compêndio conta ainda com um prefácio de Eddie Redmayne, que interpretou o cientista no filme em sua homenagem, e um posfácio escrito por Lucy Hawking, filha do cientista.
O que ressalta na obra é o último alerta dado por Hawking, na tentativa de chamar a atenção de todos nós sobre o grave rumo que o planeta está tomando.
Apesar de ter ocupado o posto de professor emérito na Universidade de Cambridge, Hawking se dirige ao leitor comum com uma clareza ímpar:
O problema é que a maioria das pessoas acredita que ciência de verdade é difícil e complicada demais. Não concordo com isso. Pesquisar sobre as leis fundamentais que governam o universo exigiria uma disponibilidade de tempo que a maioria não tem; o mundo acabaria parando se todos tentassem estudar física teórica. Mas a maioria pode compreender e apreciar as ideias básicas, se forem apresentadas de maneira clara e sem equações, algo que acredito ser possível e que sempre gostei de fazer.
Apesar da sua aparente vulnerabilidade devido a doença degenerativa que sofria, Hawking foi um furacão de ideias no universo da ciência.
Sugerimos que o seu 2020 seja impulsionado por indagações e conhecimento, por esse motivo indicamos fortemente a leitura de Breves respostas para grandes questões.
18. A chave de casa, de Tatiana Salem Levy
O romance da escritora Tatiana Salem Levy recebeu o Prêmio Portugal Telecom. O livro, assumidamente autobiográfico, é uma procura pela sua ancestralidade:
Escrevo sem poder escrever e: por isso escrevo. De resto, não saberia o que fazer com este corpo que, desde a sua chegada ao mundo, não consegue sair do lugar. Porque eu já nasci velha, numa cadeira de rodas, com as pernas enguiçadas, os braços ressequidos. Nasci com cheiro de terra úmida, o bafo de tempos antigos sobre o meu dorso.
Existe uma tradição dos judeus sefarditas guardarem a chave da casa que precisaram abandonar, esse é o pontapé inicial da narrativa de Tatiana. A sua protagonista recebe uma chave de casa do avô, que mudou-se para o Brasil e deixou para trás um lar situado em Esmirna, na Turquia.
A missão transmitida para a neta é que a jovem reencontre não só a casa, como também os parentes que ficaram para trás e tente reconstruir parte da história da família.
O romance A chave de casa é, ao mesmo tempo, uma procura exterior – pela casa, pela família, pelas raízes – e interior – uma tentativa de ordenar o caos interno da protagonista.
19. Caim, de José Saramago
Um dos livros mais bem humorados do prêmiado José Saramago é o breve romance Caim. Laureado com o Nobel, Saramago aqui se debruça sobre um episódio específico da Biblía.
Apesar de ter sido criado em um contexto português católico e conservador, Saramago – já maduro – consegue olhar para a religião com olhos frescos e questiona a história de Caim, que ouviu tantas vezes, provocando uma nova leitura.
Quando o senhor, também conhecido como deus, se apercebeu de que a Adão e Eva, perfeitos em tudo o que apresentavam à vista, não lhes saía uma palavra da boca nem emitiam ao menos um simples som primário que fosse, teve de ficar irritado consigo mesmo, uma vez que não havia mais ninguém no jardim do éden a quem pudesse responsabilizar pela gravíssima falta
Se para muitos fiéis o romance de Saramago pode ser considerado uma heresia, para o leitor não religioso as páginas garantem uma leitura bem humorada, irônica e por vezes até debochada.
20. Elizabeth Costello, de J. M. Coetzee
O título do livro do sul-africano J. M. Coetzee é o nome da sua protagonista, uma intelectual e romancista australiana cheia de ideologia.
Elizabeth Costello é uma escritora, nascida em 1928, o que lhe dá sessenta e seis anos de idade, quase sessenta e sete. Escreveu nove romances, dois livros de poemas, um livro sobre a vida dos pássaros e um corpo de trabalhos jornalísticos. É, por nascimento, australiana. Nasceu em Melbourne, onde ainda mora, embora tenha passado os anos de 1951 a 1963 no exterior, na Inglaterra e na França. Casou-se duas vezes. Tem dois filhos, um de cada
casamento.
Defensora ferrenha dos animais, ela viaja o mundo proferindo uma série de palestras. A obra de Coetzee não é propriamente um romance, sendo nesse caso considerado mais uma reunião de palestras dadas pela intelectual com um pouco da sua vida pessoal, nesse caso narrado pelo filho, já com um tom ficcional.
Elizabeth Costello é uma personagem que acompanha o autor já por outros livros e é considerada por muitos críticos como uma espécie de alter ego de Coetzee.