Não se pode dizer que 2022 tenha sido um ano tranquilo. Celebramos o alívio das restrições impostas pela pandemia em muitas partes do mundo, mas fomos rapidamente atingidos por uma inflação global recorde, a invasão russa da Ucrânia e repetidos lembretes de que as consequências das mudanças climáticas já estão aqui. O ano que passou também deixou claro como a comunidade global pode se unir, com novos compromissos e pactos para proteger o meio ambiente, esforços para ajudar os deslocados pela guerra na Ucrânia e a entrega de bilhões de doses de vacina contra a Covid-19 para áreas que precisam delas em todo o mundo.
2022 nos mostrou que, sim, nossos desafios ficam mais assustadores a cada dia, mas podemos enfrentá-los. O que podemos esperar para o próximo ano?
A hora da verdade
O ambiente de compartilhamento de dados, produtos e serviços entre instituições financeiras e clientes, começou a ser construído no Brasil desde fevereiro de 2021, mas será em 2023 que esse conjunto de regras e tecnologias vai entrar na fase final de implantação e impactar a vida dos mais de 182 milhões de clientes do setor financeiro brasileiro. Segundo especialistas.
O Banco Central (BC) projeta que 2023 será o ano em que os impactos do sistema na vida das pessoas ficarão evidentes. Isso significa mais produtos para mais clientes e a preços e taxas mais baixos. Com mais de 800 instituições e empresas financeiras inscritas e com as adesões de mais de cinco milhões de consumidores antes mesmo da implementação total da plataforma, bancos e fintechs já começaram a lançar as novidades, como fizeram Banco do Brasil e Bradesco, com crédito, investimentos, contas e transações bancárias, seguros e previdência.
Para Venancio Velloso, sócio e CDO na Genial Investimentos, também conselheiro e palestrante de inovação e transformação digital vai empoderar o consumidor. “O foco das instituições financeiras não será mais na própria empresa, mas no produto. Vão prevalecer então os melhores serviços”, diz. Para ele, o setor financeiro vai passar pela mesma revolução que impactou o varejo anos atrás. Nesse processo, em que os produtos e serviços oferecidos passam a ocupar mais relevância que os atributos associados aos grupos financeiros, o mercado financeiro pode ter uma aceleração de processos de consolidação, por meio de fusões e aquisições. “A competição pode até ocorrer agora, mas no longo prazo a consolidação do mercado que poderá impactar a forma de relacionamento das pessoas com os serviços financeiros. Vão prevalecer as empresas que se preocuparem mais com o cliente que com o próprio bolso”, diz Velloso.
Empresas de outros setores, que estão lançando produtos e serviços bancários para capturar novos clientes e manter a fidelidade dos consumidores. O desafio, afirmam especialistas, será conciliar as vantagens que o sistema traz ao mercado, com efetiva ampliação do acesso das pessoas aos produtos e serviços financeiros e redução de custos, sem que o funcionamento do sistema afete o elevado grau de segurança e de respeito às leis de proteção de dados dos consumidores.
Para Walter Pereira, investidor, advisor e escritor especializado em fintechs diversas empresas possam se conectar para aproveitar as possibilidades desbloqueadas por ela, resultando assim em um ecossistema mais eficiente para a economia.
2. Vamos ver a primeira guerra de ransomware
Ransomware, ataque digital que sequestra arquivos e redes de computadores, sempre foi sobre extorquir dinheiro. Mas em 2023 esse tema terá uma dimensão ainda mais ameaçadora — podendo comprometer a segurança nacional. Gangues de Ransomware em países como Rússia e Irã estão cada vez mais próximas dos governos combalidos desses respectivos países. Quando Moscou invadiu a Ucrânia, um dos grupos mais perigosos da Rússia, Conti, anunciou “apoio total ao governo russo” e prometeu colocar toda a sua capacidade “em medidas para retaliar” o “Ocidente belicista”. De maneira semelhante, o grupo hacker Sandworm, que tem ligações com o serviço de inteligência russo, promoveu ataques de ransomware contra alvos na Ucrânia e Polônia.
Enquanto as forças convencionais da Rússia tropeçam, é esperado que o país utilize gangues de ransomware em uma ciberguerra contra os Estados Unidos e outros países que estão armando a Ucrânia. Ataques de ransomware patrocinados por Estados devem mirar usinas de energia, gasodutos e oleodutos, hospitais, órgãos de governo e eleições, com hackers buscando objetivos políticos, como a soltura de prisioneiros. As gangues podem ainda atuar como ciber-espiões, roubando segredos corporativos ou de segurança nacional antes de encriptar os arquivos.
Uma guerra de ransomware poderia levar à interrupção do fornecimento de energia, comprometer inteligência militar, minar negócios e atividades do governo e elevar os custos de apólices de seguro contra ataques cibernéticos. Com informação obtida por gangues, nações rivais poderiam antecipar movimentos da política internacional dos Estados Unidos e chantagear oficiais de governo. É esperado que o FBI contrate mais profissionais com conhecimento técnico e tecnológico e derrube servidores e outros tipos de infraestrutura que dão suporte a ataques de ransomware. — Renee Dudley e Daniel Golden, repórteres na ProPublica e co-autores do livro “The Ransomware Hunting Team“.
3. A inteligência artificial forçará profissionais criativos a se adaptar
Em 2022, o mercado de tecnologia viu uma proliferação de ferramentas de inteligência artificial generativas — isto é, programas e aplicativos capazes de gerar arquivos a partir de comandos em linguagem natural, sem tecnicismos ou mesmo códigos de programação. Gigantes como Microsoft, Meta, Google e OpenAI, mas também startups como Stability AI e laboratórios independentes como Midjourney e Craiyon, estamparam manchetes com seus algoritmos capazes de gerar qualquer imagem a partir de comandos simples em texto.
A nova tecnologia vai além da produção de imagens e também já pode ser usada para criar áudio, vídeo e texto com resultados impressionantes. Alguns tão impressionantes que chegaram a convencer um engenheiro do Google de que as máquinas já têm “alma”. Outros já vencem humanos em concursos de arte.
Em 2023, a tendência é que ferramentas do gênero continuem causando calafrios em profissionais criativos. Afinal, como ficam fotógrafos, designers, ilustradores e redatores quando qualquer imagem ou texto pode ser gerado de graça por uma inteligência artificial? Será que, ao contrário do que se imaginava, nem mesmo as profissões criativas estão a salvo da automação?
Para Karol Attekita, criadora de conteúdo e engenheira de software na Riot Games, profissionais criativos terão que aprender a usar essa tecnologia a seu favor. Alguns ilustradores já estão usando IA para fazer mockups, enquanto outros preveem o surgimento de vagas para “prompt designer”, responsável por redigir os comandos que os robôs terão de ler.
“Temos uma visão muito errada sobre profissões que provavelmente serão substituídas pela tecnologia. Principalmente sobre a ótica de que a criatividade é algo ‘humano’. Mas o que é a criatividade senão a ‘capacidade de identificar padrões e saber quando quebrá-los’?”, diz Attekita em um post no LinkedIn. — Lucas Carvalho
4. Contra a vigilância, trabalhadores e empregadores entrarão em acordo
Quando a pandemia forçou profissionais a trabalhar de maneira remota, empregadores se voltaram a tecnologias que permitiam a vigilância dos trabalhadores. Algumas permitem monitorar toques no teclado, contagem de e-mails e, em alguns casos extremos, até solicitar que funcionários trabalhem com suas webcam ligadas — gerentes foram inundados com dados sobre a atividade de seus empregados.
Em 2023, os empregadores vão começar a perceber que a vigilância só está tornando as coisas piores. Trabalhadores sob monitoramento são “substancialmente mais suscetíveis a fazer pausas não autorizadas, desobedecer instruções, danificar ou roubar equipamentos do trabalho e diminuir o ritmo propositadamente”, afirmam achados publicados na Harvard Business Review por um time de pesquisadores.
Se não houver mudança, trabalhadores frustrados podem muito bem tomar a atitude por si próprios e se isolarem, desconectando-se de seus dispositivos de trabalho, prevê Anders Sorman-Nilsson, diretor e fundador do think tank Thinque, da Austrália.
Líderes de mente aberta fariam bem em abraçar essa ideia. Para Sorman-Nilsson, dias “fora da rede” podem servir como uma estratégia individual de trabalho fora do escritório. “Algumas das grandes ideais tendem a vir quando as pessoas estão tomando um banho relaxante, surfando ou dando uma caminhada na natureza”. — Cayla Dengate
5. Os táxis vão decolar (com os ricos a bordo)
Imagine um drone, movido a energia elétrica, grande o bastante para carregar pessoas, e que pode voar de maneira autônoma até um destino. Eles são conhecidos como eVTOLS (sigla em inglês para veículo elétrico de decolagem e pouso vertical) e estão chegando a diversas cidades do mundo.
Existem cerca de 300 eVTOLs sendo concebidos ao redor do mundo e essa indústria já atraiu mais de US$ 6 bilhões em investimentos privados nos últimos dois anos. Reguladores ainda não bateram o martelo em qual será o modelo padrão, mas a Joby Aviation, empresa localizada na Califórnia, já conseguiu uma das três certificações que precisa junto às autoridades dos EUA para dar início à operação comercial do modelo, que deve começar em 2025. A França também testa os táxis voadores, com o objetivo de ter um serviço de eVTOL durante as Olimpíadas de 2024, em Paris. No Brasil, a Eve Air Mobility, subsidiária da Embraer, pretende testar eVTOLs para conectar a Barra da Tijuca ao Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro.
Companhias aéreas do mundo todo já se preparam para engrossar a frota. Em setembro, a americana United Airlines assinou um contrato de US$ 15 milhões pela pré-compra de 200 veículos junto à Eve Air Mobility.
De início, espera-se que os táxis voadores sejam um brinquedo dos ricos. “Os primeiros a adotar qualquer revolução de mobilidade sempre foram as pessoas com mais recursos”, afirma Jack Withinsaw, co-fundador da Airspeeder, localizada em Londres. “Foi algo que aconteceu na indústria automotiva, na aviação e agora estamos vendo isso nas viagens espaciais.”
Outros usos iniciais incluem ainda turismo, transporte médico (especialmente em áreas remotas) e esportes. A Airspeeder já firmou parceria com a empresa australiana Aluada Aeronautics para construir eVTOLs controlados remotamente para uma corrida aérea já em 2023, com planos de uma sequência tripulada em 2024. — Marty McCarthy
6. A hiperconveniência vai ditar o consumo
A compra online já faz parte da vida de 49,8 milhões de brasileiros e esse número cresce a cada dia. Mas isso não significa que o varejo físico esteja desaparecendo. Na verdade, grandes redes reagiram à crise de Covid-19 (e o espaço vago deixado no mercado imobiliário), expandindo o número de lojas físicas. O motivo deste movimento está em uma tendência que deve ficar evidente em 2023: o canal de consumo será escolhido pelo consumidor de acordo com a conveniência.
Para um número considerável de brasileiros, o isolamento social causado pela pandemia escancarou as vantagens e desvantagens de cada canal de compras e isso tende a ser usado a seu favor. Se a compra é emergencial, o mercado do condomínio ou do bairro resolve o problema. Se a necessidade do pedido é de algumas horas, há os aplicativos de delivery. Agora, se tiver tempo para pesquisar, o consumidor pode passar em uma loja física, testar os modelos disponíveis e fechar a compra por lá ou acionar diferentes sites em uma busca do melhor preço e entrega.
Nesse cenário, o varejista precisa não apenas estar em todos os lugares, mas também oferecer canais integrados e sem grandes fricções. “Precisamos lembrar que, para uma empresa ser considerada omnichannel, é preciso ir muito além de integração sistêmica do online e offline. Na verdade, estamos falando de entregar uma proposta de valor ao consumidor que garanta autonomia, personalização e conveniência”, afirma Mariana Cerone, professora de varejo da ESPM. — Letícia Toledo
7. As expectativas em relação ao significado do trabalho serão ajustadas
Nos últimos anos, o propósito ganhou um peso cada vez maior para profissionais ao redor do mundo – e o Brasil não ficou de fora. A pesquisa “Edelman Trust Barometer 2021” revelou que “74% dos brasileiros esperam poder gerar impacto social e afirmam que fatores como o negócio refletir seus valores pessoais são decisivos para avaliar ou considerar um emprego”. O movimento conhecido como “Great Reshuffle” refletiu isso, com milhares de profissionais abrindo mão de empregos estáveis em busca de um trabalho que preenchesse seu senso de propósito.
A multiplicação de startups estampando missões grandiosas e o apoio crescente de empresas a causas nobres fizeram com que os profissionais percebessem que é possível querer um trabalho que não apenas pague suas contas, mas que também contribua para um mundo melhor.
No entanto, em um cenário de incertezas e demissões em massa – que vem incluindo até mesmo os altamente demandados profissionais de tecnologia –, é provável que as expectativas em relação ao trabalho precisem passar por um ajuste (ainda que temporário) para que se tornem mais realistas. Pessoas que pediram demissão na “Grande Renúncia” e que ainda não se recolocaram já estão começando a se arrepender, com receio de que o mercado piore. Um trabalho pode envolver um propósito maior de melhorar o mundo, mas muita gente está começando a se perguntar se simplesmente pagar as contas e permitir uma rotina equilibrada já não seria bom o bastante – pelo menos temporariamente. “O propósito pode estar nas pequenas coisas, na diferença que você faz na vida de uma pessoa, na contribuição que você oferece para um colega e até mesmo na melhoria da qualidade de vida que proporciona para a sua família”, afirma a especialista em recolocação Mariana Torres. — Ana Prado
8. O turismo precisará se reinventar
Quando a França anunciou, em abril de 2022, que proibiria voos domésticos entre destinos que estejam a menos de duas horas e meia de trem, isso foi divulgado pelo governo como um passo significativo para reduzir as emissões de carbono em 40% até 2030.
Tais restrições no setor de viagens ganharam amplo apoio na Europa. E com a ONU estimando que as emissões de CO2 relacionadas ao turismo aumentem 25% na próxima década, vários governos podem seguir o exemplo da França.
Um movimento cada vez mais eloquente em prol da sustentabilidade defende que precisamos parar de voar – na verdade, parar de viajar – completamente. Estarão com os dias contados as viagens dos europeus para fugir do inverno e de mochileiros embarcando em voos econômicos a cada verão?
Para Glenn Fogel, CEO da Booking.com, isso seria um desastre. O turismo responde por 10% do PIB global e sustenta a economia de dezenas de nações, de Barbados às Maldivas. Só no Brasil, o setor responde por 8,1% do PIB. Em todo o mundo, a pandemia de Covid-19 e as restrições de viagem que a acompanharam custaram cerca de 62 milhões de empregos no turismo. “Ninguém quer voltar a esta situação”, disse Fogel.
De qualquer forma, as razões para alimentar nosso desejo de viajar não são apenas econômicas. “O turismo também é um poderoso impulsionador da compreensão cultural e do respeito mútuo em um mundo cada vez mais dividido”, diz Fogel. “Nosso objetivo não deve ser refrear a indústria, mas transformá-la.” — Orlando Crowcroft
9. A era do CEO herói chegará ao fim
Em algum momento entre o ano 2000 e o início dos anos 2010, os fundadores de empresas do Vale do Silício começaram a adquirir um status de semideuses. CEOs de companhias de tecnologia, como Mark Zuckerberg, do Facebook, Elon Musk, da Tesla, Travis Kalanick, da Uber, e Adam Neumann, da WeWork, se tornaram conhecidos com o apoio dos investidores — e as pessoas prontamente os seguiram.
Jovens diplomados que entraram no mercado de trabalho após a recessão de 2008 encontraram pelo caminho promessas vindas de quem havia desistido da faculdade, como Zuckerberg. Esses jovens bilionários se tornaram heróis, idolatrados em filmes, na TV e em estudos de caso de escolas de negócios.
À medida que a confiança no governo e na mídia definhava, a influência do CEO de tecnologia só crescia. Eles estavam conectando o mundo à internet, promovendo valores liberais, apoiando o casamento entre pessoas do mesmo sexo e defendendo a democracia. Enquanto isso, suas empresas cresciam — tanto em valor acionário quanto em número de funcionários.
Agora, com a economia em turbulência, a ilusão de que as empresas de tecnologia (e seus fundadores) vão nos salvar se desvaneceu. Zuckerberg pode manter suas convicções sobre o metaverso, mas demitiu 11.000 funcionários da Meta recentemente, na primeira grande demissão da empresa. Elon Musk jura que sabe como consertar o Twitter, mas cortou metade da equipe na semana em que se tornou CEO e outros milhares se demitiram posteriormente. Seus movimentos erráticos de negócios colocaram um ponto de interrogação na própria existência do Twitter.
Os chefões do Vale do Silício parecem distantes. Atualmente, o Barômetro de Confiança da Edelman revela que as pessoas ainda admiram os líderes empresariais, mas estão bastante desapontadas com sua liderança.
Mas há um ponto positivo nisso: sem estrelas “tech” para idolatrar, muitos de nós podemos aceitar que os problemas do futuro podem ser resolvidos por pessoas comuns. Talvez esteja na hora de nos tornarmos nossos próprios heróis. — Jessi Hempel e Tanya Dua
10. Low code: a nova arma da indústria contra o déficit de profissionais
A transformação digital que atingiu diversos setores da indústria nos últimos anos não tem data para acabar. E por isso, a demanda por profissionais qualificados em tecnologia também tende a continuar alta, ainda que a oferta não seja suficiente.
Dados da Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom) indicam que o Brasil precisará de quase 800 mil pessoas no setor de TI até 2025. Mas, por enquanto, só são formados 53 mil profissionais com essa especialização por ano.
Para combater o déficit, a tendência é que mais empresas apostem em low code: ferramentas que não exigem conhecimento técnico aprofundado em programação para desenvolver e fazer a manutenção de sistemas. É o caso de serviços como Microsoft Power Apps, Google App Maker, AWS Honeycode, Oracle Apex e Totvs Fluig. A consultoria Gartner estima que o low code será responsável pelo desenvolvimento de mais de 65% dos aplicativos no mundo até 2024.
“Ao democratizar e acelerar o desenvolvimento de aplicativos, as abordagens de low code podem ajudar as empresas a se moverem mais rapidamente. Em meio a mudanças rápidas e grande incerteza, esse é um benefício que não pode e nem deve ser ignorado”, diz o Top Voice e consultor de tecnologia Cezar Taurion em post no LinkedIn.
Por outro lado, as empresas que apostarem no low code — ou no ainda mais radical e intuitivo “no code”, que elimina qualquer exigência de conhecimento em código, por menor que seja — terão que desenvolver também novos fluxos de trabalho, já que nem toda empresa pode depender unicamente dessas plataformas. De acordo com Taurion, o desafio dos líderes nesse novo cenário será de dividir as demandas entre os times de programação com e sem código, e integrar tudo isso às demandas do negócio de forma eficiente. — Lucas Carvalho
11. Moeda Digital Brasileira – o fim do dinheiro?
O projeto piloto do Real Digital, a moeda digital do Banco Central (da sigla em inglês CBDC, Central Bank Digital Currency) estreia em 2023, o que pode ser o início do fim do dinheiro cédula, dizem especialistas. Segundo eles, a moeda digital brasileira vai facilitar e baratear a criação de contratos de empréstimos personalizados, para poucos dias ou com pagamentos em meses específicos, por exemplo, e favorecer a integração com sistemas de pagamentos internacionais, permitindo compras em outro país com conversão imediata e sem riscos.
No CBDC brasileiro, os bancos serão responsáveis pela emissão dessas stable coins — assim chamadas porque o valor dessas criptomoedas é atrelado a outro ativo, no caso, a moeda brasileira, o real, e não flutua, como os Bitcoins, por exemplo.
Segundo destaca Stefania Trentim, diretora de transformação digital (CDO) na Witec IT Solutions, neste artigo para o LinkedIn, a transformação digital já afeta diretamente a forma como os brasileiros recebem e transacionam o dinheiro, mas a moeda digital tem o propósito de facilitar as transações financeiras e substituir o que está na carteira de forma segura e regulada.
O Real Digital terá o mesmo valor que a moeda física, poderá ser livremente convertido em depósitos bancários, em papel-moeda ou ser usado para compras e em transferências pessoais. Só isso, em um país com elevados índices de crime que encarecem as despesas de segurança na economia, já seria um fator a favor da eficiência econômica. Mas a criptomoeda oficial também será capaz de fomentar novas funções ao dinheiro, dizem especialistas.
Para isso, o Banco Central do Brasil já selecionou nove projetos para o laboratório de inovação que vão criar as soluções para o Real Digital. Os projetos, liderados por Itaú, Santander, Tecban, Visa e Mercado Bitcoin, facilitam transferências offline, agilizam processos de compra e venda de imóveis ou transações internacionais, por exemplo.
Mas a moeda virtual vai impactar as receitas de instituições financeiras, diz a consultoria Accenture. Segundo o estudo, bancos e fintechs terão os negócios afetados pelas moedas digitais de bancos centrais (CBDCs) de duas formas. Por um lado, haverá um impacto negativo, com a possibilidade de a autoridade monetária oferecer de forma gratuita serviços atualmente prestados por essas instituições. Mas também haverá um efeito positivo, com o crescimento do mercado de crédito para as instituições financeiras por meio das novas soluções que serão criadas. — João José Oliveira
12. A jornada de trabalho flexível estará em foco
Em 2022, os holofotes se voltaram para a semana de trabalho de quatro dias, o que encorajou trabalhadores e líderes a repensar como trabalhamos. Mas esta é apenas a ponta do iceberg. Em 2023, os funcionários continuarão a pressionar por mais flexibilidade, finalmente se libertando da jornada de trabalho das 9h às 18h.
Os dias de trabalho não lineares, uma tendência acelerada pelo trabalho remoto, darão aos profissionais mais liberdade para escolher seus próprios horários. Embora o trabalho assíncrono exija que empregadores abram mão de algum controle, seus benefícios são promissores: jornadas flexíveis podem aumentar a produtividade dos funcionários em quase 30%, segundo pesquisa publicada pelo Future Forum, nos Estados Unidos.
“O trabalho assíncrono permite que funcionários não tenham restrições de tempo”, diz a professora Laura Giurge, da London School of Economics. “Isso nos ajuda a deixar de focar na quantidade de trabalho como medida de desempenho, para focar na qualidade.”
O conceito de dias de trabalho não lineares já está ganhando força entre as startups de tecnologia, que têm equipes em diferentes localidades, e será fundamental para reter talentos no próximo ano. A construção de um modelo de sucesso exigirá uma mudança cultural completa, na qual os empregadores recebem as contribuições dos funcionários, lideram com confiança e respeitam os limites entre vida profissional e pessoal.
“As pessoas são seres humanos com diferentes necessidades e motivações”, diz Laura. “É preciso entender essa diversidade e atendê-la. Não há mais lugar para um modelo de tamanho único.” — Gianna Prudente
13. O trabalho híbrido veio para ficar
O grande debate sobre o retorno aos escritórios deve se acirrar em 2023, com alguns CEOs exigindo que os funcionários retomem o trabalho presencial. Mas o modelo híbrido triunfará.
Um estudo do LinkedIn apontou uma queda em anúncios de empregos remotos. Nos Estados Unidos, apenas um em cada sete anúncios feitos no LinkedIn oferecia o trabalho remoto como uma opção em outubro – essas oportunidades, por sua vez, atraíram mais da metade das candidaturas. Para Rand Ghayad, diretor da área de economia e mercados de trabalho globais do LinkedIn, a flexibilidade e o equilíbrio entre vida profissional e pessoal conquistados durante a pandemia, continuam sendo prioridade para os profissionais, mesmo diante de piores perspectivas econômicas.
O trabalho híbrido permite essa flexibilidade, mas também possibilita encontros pessoais para mentorias e momentos de socialização. Nick Bloom, economista da universidade de Stanford, considera estes, inclusive, os principais motivos para frequentar o escritório. Em 2023, tente organizar melhor os dias de trabalho remoto e presencial, combinando com antecedência com seus colegas quais dias irá ao escritório. “Ficar no Zoom o dia todo não faz sentido”, diz Bloom.
Segundo uma pesquisa da Microsoft (empresa controladora do LinkedIn), o trabalho híbrido aumenta a produtividade a curto prazo mas, a longo prazo, também pode diminuir a criatividade e o senso de comunidade. Para Bloom, as empresas precisarão se adaptar às necessidades de seus funcionários, seja criando um plano único para toda a companhia ou deixando as equipes decidirem. — Taylor Borden
14. O private label será a grande estratégia das maiores varejistas
A alta da inflação e os problemas na cadeia de suprimentos estão levando varejistas de todo o mundo a investir em produtos de marca própria, o chamado private label. No Brasil, com o poder de compras deteriorado, muitos consumidores já estão recorrendo a essas marcas por representarem uma economia de até 40%.
Para as varejistas, a margem de lucro desses produtos também é maior. É por isso que Pão de Açúcar, Carrefour, Raia Drogasil e Panvel estão entre as companhias que anunciaram investimentos para ampliar a oferta de produtos private label. “A participação de marcas próprias no varejo brasileiro é inferior à do mercado americano e europeu, mas em um cenário econômico deteriorado, elas têm espaço para avançar”, afirma Leonardo Tonini, co-fundador do venture capital especializado em bens de consumo Emerge Ventures. Segundo pesquisas, cerca de 5% do que é vendido no varejo alimentar do Brasil é de marca própria. Nos Estados Unidos, esse percentual sobe para 20% e, na Europa, para cerca de 30%. — Letícia Toledo
15. A liderança vai se mostrar mais vulnerável
As empresas já entenderam que ambientes saudáveis, positivos e inclusivos contribuem para a produtividade dos funcionários, e ficou claro que as lideranças ocupam papel central na construção da cultura corporativa. Por isso, é seguro dizer que a era dos gestores autoritários e distantes ficou para trás.
Mas não basta não ser autoritário. Pesquisas têm mostrado que os funcionários esperam líderes humanos e humildes, e isso inclui estar aberto a expor suas próprias limitações. Um estudo global de 2021 feito com mais de 12 mil profissionais pela organização sem fins lucrativos Catalyst revelou que, quanto mais os gestores demonstram vulnerabilidade, mais as pessoas estão dispostas a se dedicar ao trabalho.
“Os times mais fortes de que eu tive a oportunidade de participar ou construir foram aqueles em que tínhamos abertura para compartilhar nossas vulnerabilidades. Isso aproxima as pessoas e humaniza as relações, promovendo mais confiança e transparência”, diz Roberto Funari, CEO da Alpargatas, em post no LinkedIn. A tendência é que cada vez mais líderes percebam o valor da vulnerabilidade e o seu poder para nutrir laços mais duradouros e saudáveis com suas equipes. — Ana Prado
16. Carne feita em laboratório será mais comum
Há muito debate em torno das carnes geradas em laboratório e do potencial que elas podem ter para lidar com os desafios éticos e ambientais da pecuária. Mas, apesar dos bilhões de investimentos sendo alocados nesse setor, ainda não se veem cortes de culturas de células sendo vendidos em supermercados e açougues. Em 2023, a carne feita em laboratório deve ganhar mais espaço ao redor do mundo.
Singapura foi o primeiro país a aprovar um produto de frango cultivado para consumo humano, ainda em 2020. Neste ano, a China divulgou um plano de 5 anos para a agricultura que inclui carnes cultivadas. Em novembro, reguladores americanos liberaram produtos similares da empresa Upside Foods, da Califórnia, sob uma visão de que a “bioeconomia” será decisiva para a prosperidade econômica e a segurança alimentar.
Os inovadores da carne não estão parados. Tim Noakesmith, co-fundador da Vow, empresa australiana de agricultura celular, anunciou recentemente que o primeiro produto da empresa estaria disponível em restaurantes de Singapura até o final de 2022, conforme o setor se prepara para um momento de crescimento significativo.
“Nós veremos algumas empresas vendendo diferentes produtos a base de células em mercados regulados”, prevê Noakesmith. “Vamos continuar a ver um fluxo de novas empresas nascendo nessa indústria, bem como a aquisição de alguns players mais conhecidos”.
Mas e no supermercado? Essa parte deve demorar um pouco mais. “Estamos vendo uma atividade fenomenal com novas fábricas sendo construídas para aumentar a carne cultivada em laboratório”, disse Noakesmith ao LinkedIn Notícias. “Mas ainda nenhuma em escala grande o bastante para garantir a demanda e distribuição nacionais em supermercados.” — Marty McCarthy
17. O dinheiro vai fluir no esporte feminino
O futebol feminino marcou em 2022 — e muito. A Eurocopa Feminina em julho foi assistida por cerca de 365 milhões de pessoas em todo o mundo, mais que o dobro da audiência de 2017. Três meses depois, quase 77.000 torcedores lotaram o Estádio de Wembley, em Londres, para um confronto EUA-Inglaterra — recorde de público para um amistoso feminino dos EUA.
No Brasil, a final do Brasileirão entre Corinthians e Internacional reuniu 41.070 presentes na Neo Química Arena, recorde da categoria. O recorde de audiência na TV aberta também foi quebrado, em um amistoso entre Brasil e Suécia.
Com torcedores de futebol feminino mais engajados do que nunca, marcas correram para firmar parcerias com times e jogadoras. Agora as empresas também estão despertando para o potencial de marketing inexplorado de outros esportes femininos. Os acordos de patrocínio para mulheres nos principais esportes dos EUA aumentaram 20% em 2022 e esse número provavelmente aumentará em 2023.
“As oportunidades são enormes”, diz Jon Patricof, CEO da Athletes Unlimited, uma rede de ligas femininas de basquete, softbol, vôlei e lacrosse. “O público dos esportes femininos é muito diversificado, jovem e representa a visão que muitas marcas têm para o futuro.”
O patrocínio pode ajudar a iniciar um “círculo virtuoso”, diz Karen Carney, uma veterana jogadora de futebol feminino da Inglaterra e locutora. O investimento permite que as atletas treinem e joguem em tempo integral, o que eleva a qualidade do esporte, atraindo mais fãs e patrocinadores. O dinheiro foi investido no futebol feminino após a Copa do Mundo Feminina de 2019, observa Carney. “E agora, em 2022, o produto melhorou como resultado.” Com o investimento e o público crescendo em outros esportes femininos, mais círculos virtuosos estão a caminho. — Manas Pratap Singh
18. VCs vão parar de caçar unicórnios
Quando a capitalista de risco Aileen Lee cunhou o termo “unicórnio” em 2013 para descrever startups que haviam acumulado avaliações de mais de US$ 1 bilhão, a distinção era tão rara quanto a própria criatura mítica. Mas em algum lugar em meados de 2010, os unicórnios se tornaram uma dúzia.
Impulsionados por ganhos iniciais, os VCs despejaram grandes quantias de dinheiro para fundadores e empresas que nem sempre mereciam o hype. Alguns unicórnios — WeWork, Theranos, FTX — implodiram de forma espetacular, apagando dezenas de bilhões de dólares em valor.
Mas com os custos dos empréstimos aumentando junto com a incerteza econômica, os investidores do Vale do Silício agora relutam em fazer essas apostas fantásticas. A mensagem que os VCs estão transmitindo às startups sobre o próximo ano é clara: a era do excesso acabou e os fundadores devem deixar de lado seus sonhos de unicórnio e, em vez disso, aspirar a criar cavalos de trabalho robustos que possam sobreviver a tempos difíceis.
“Estamos vendo uma redefinição”, disse o investidor Alan Patricof. Os fundadores não devem “ser apanhados pela carga psicológica de suas avaliações anteriores e ser realistas quanto às expectativas”.
O financiamento já está diminuindo. Apenas 25 empresas unicórnios nasceram no terceiro trimestre de 2022, de acordo com a empresa de pesquisa de capital de risco CB Insights, cinco vezes menos que no mesmo período de 2021. “Voltamos ao básico”, disse Arif Janmohamed, da Lightspeed Venture Partners. “É uma oportunidade de fazer parceria com empreendedores resilientes que estão contratando missionários para se juntarem a eles para construir algo especial na próxima década, em oposição aos mercenários que querem ficar ricos em um ou dois anos.” — Tanya Dua
19. Uma recessão global é provável — mas não vai durar
A economia global está à beira de uma virada. As três maiores economias — Estados Unidos, China e Zona do Euro — estão freando bruscamente, de acordo com o Banco Mundial. “A previsão para 2023 se tornou mais sombria”, diz a OMC (Organização Mundial do Comércio). Para o FMI (Fundo Monetário Internacional), “o pior está por vir”. Líderes de negócios concordam: em uma pesquisa, 86% dos CEOs preveem uma recessão no horizonte de 12 meses.
Mas seja pelo otimismo tenaz diante do arrefecimento da pandemia ou pela fé persistente de que os bancos centrais irão aliviar o ajuste monetário que vêm fazendo nas taxas de juros, a baixa econômica não deve ser descontrolada. A mesma pesquisa com CEOs aponta que 58% deles estima que a recessão terá vida curta. Em outras palavras: não estamos em 2008.
Entre as condições atuais e a pior recessão da história está um grupo de pessoas muito influentes: presidentes de bancos centrais. Enquanto eles combatem a inflação com uma agressiva e rápida alta das taxas básicas de juros, cada palavra dita por Jerome Powell, presidente do FED, banco central dos EUA, ou Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu é analisada pelos investidores com pente fino. Algo que não irá mudar em 2023, afirma o investidor bilionário David Rubenstein, que empregou Powell há 25 anos em sua firma de investimentos.
“Com as taxas de juros aumentando tanto, o resultado inevitável é uma redução no crescimento econômico”, disse Rubenstein ao LinkedIn Notícias. “Nós basicamente teremos uma recessão em algum momento no futuro próximo.” — Devin Banerjee
20. O social commerce veio para ficar
Extremamente popular na China, a compra por meio de redes sociais — o chamado social commerce — está expandindo suas fronteiras. Globalmente, esse mercado deve chegar a US$ 1,29 trilhão em faturamento em 2023, representando 20% das vendas globais do comércio eletrônico.
No Brasil, 2023 promete ser um ano e tanto para o desenvolvimento desse mercado. Isso porque redes sociais como TikTok, YouTube e WhatsApp estão investindo em ferramentas focadas no comércio do país. O objetivo dessas plataformas é permitir que o brasileiro realize toda a sua jornada de compra (da busca ao pagamento) sem sair da plataforma. Uma pesquisa da empresa de dados All In revela que 75% dos brasileiros já usam as redes sociais para buscar produtos.
Mais do que uma nova experiência de compra, o social commerce muda a forma como o consumidor se relaciona com as marcas. Nesse cenário, elas precisam não apenas reforçar a presença nessas plataformas como criar jornadas dinâmicas de vendas — compatíveis com o que o consumidor busca quando entra em uma dessas redes. “O conteúdo é o principal nessas plataformas. O bom conteúdo é aquele que mostra a usabilidade do produto, que constrói notoriedade e relevância para ajudar no convencimento no momento da compra”, diz Pedro Alvim, gerente de redes sociais do Magazine Luiza . — Letícia Toledo
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Reportagem: Scott Olster, Thiago Lavado e Tonia Machado
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