Qual o foco da cultura organizacional? – É consenso no meio empresarial que “pessoas são os ativos mais importantes de uma empresa”. A expressão já é quase que um clichê, mas é sempre um lembrete importante. Afinal, muito além de “força de trabalho”, a equipe é a energia que faz a organização acontecer. Pense bem: haveria estratégia, processos, negócios e inovação sem ela? Um líder jamais conseguiria fazer tudo sozinho. Por isso mesmo, toda tomada de decisões deve ter como termômetro seu impacto sobre as pessoas. Ou, como bússola, o bem-estar e a segurança delas.
Esse é o cerne da liderança cuidadora e vale, inclusive, para o relacionamento com o público externo. Assim como Moriyasu reverenciou a torcida japonesa, “acene” para quem escolhe sua marca no mercado, estimule canais para que essas vozes sejam ouvidas, valorizadas e atendidas. A gestão cuidadosa começa, na realidade, com a implementação de uma cultura organizacional mais humana – em todos os sentidos.
Você (realmente) ouve sua equipe? – Uma pesquisa global da Octanner traz resultados interessantes. Segundo o levantamento, 79% dos líderes entrevistados disseram compreender o que seus colaboradores esperavam da empresa. Ironicamente, no entanto, só 48% deles concordaram com a afirmação. O gap entre uma percepção e outra pode ser explicado pela ausência de escuta ativa. Isto é, pela falta de habilidade (ou pela resistência) em ouvir o que seu time tem a dizer.
Com mente aberta, ouvidos atentos e interesse real por feedbacks da equipe, você estimula a transparência no workplace. Nada mais benéfico na elaboração de estratégias e até na gestão de crises. Chegou a hora de trocar o “eu acho” por “realmente compreendi”.
O segredo da escuta ativa é, de fato, parar e estar totalmente concentrado no que o colaborador está comunicando. Mas ela precisa andar de mãos dadas com a empatia e a humildade. Aquele que é dono da razão nunca ouvirá realmente o que precisa, mas apenas o que deseja ouvir para reforçar suas crenças. E isso é exatamente o oposto do líder cuidador, que traz consigo a visão de que pode aprender com todos, a qualquer momento, pois o time é composto por especialistas nas diversas funções.
Que relações você tem construído? – Repita comigo: a liderança cuidadora não é um dom inato. É, como prefere chamar a palestrante e escritora Heather R. Younger, uma arte. Isso significa, para terror de quem acredita em fórmulas prontas, que ela deve ser aprimorada – inclusive com desconstruções importantes.
Mais do que “se colocar no lugar do outro”, é preciso reconhecer quem está no seu entorno. Ou, em outras palavras, substituir o poder absoluto e centralizador por confiança no talento e desempenho de seus pares. Está aí um mindset que dilui hierarquias rígidas para dar lugar a relações fluidas, horizontalizadas e saudáveis.
O ambiente de trabalho, como vai? – Acredite: zelar pelas pessoas e criar um workplace leve pode ser um diferencial competitivo. A conclusão vem de pesquisa global da Deloitte. De acordo com o levantamento, 95% dos gestores de RH associam excesso de trabalho e burnout à perda de profissionais no staff. Por isso mesmo, 80% dos entrevistados também acreditam que o bem-estar de suas equipes deve ser prioridade na estratégia organizacional.
É hora de avaliar, então, que tipo de cenário é construído na organização. O ambiente é competitivo ou de inovação colaborativa? Como anda a saúde mental dos colaboradores? A diversidade é respeitada? Talentos são reconhecidos? Esforços são recompensados?
Vale lembrar que o dinheiro continua, obviamente, sendo fundamental, mas está claro que não é suficiente para reter os melhores talentos. Mais do que nunca, os colaboradores estão dando mais valor a condições que não estão vinculadas somente ao valor de seu salário líquido. Horários de trabalho flexíveis, auxílio creche, descansos remunerados e espaços de lazer na empresa, por exemplo, são alguns dos benefícios do que chamamos de salário emocional (ou seja, recompensas não materiais). Reconhecimento e treinamentos também entram nessa conta. Estes aspectos, aliás, são essenciais para que o colaborador enxergue um propósito em seu trabalho, então é preciso que tudo isso seja visto com atenção.
Sua liderança inspira? – O genial Daniel Goleman é conhecido por incorporar e popularizar, nos debates sobre gestão, o termo inteligência emocional. E o conceito segue tendo desdobramentos.
Em um artigo para a Korn Ferry, por exemplo, Goleman explica que o líder emocionalmente inteligente é justamente aquele que, mesmo em cenários de volatilidade e competitividade no mercado, consegue dedicar parte de sua agenda ao cuidado genuíno de seus pares. Assim como em uma partida de futebol, o líder da equipe precisa saber de que lado da mesa ele está – se está com os críticos – que fazem muito bem seu trabalho – ou se está com o vestiário, que é o lado de quem assume as responsabilidades pelos resultados não apenas quando são positivos, mas principalmente quando são duros.
Em momentos de grandes resultados, os líderes ficam atrás e a equipe é aplaudida à frente. Já nos momentos de crise, deve ocorrer o inverso: a equipe fica atrás da sua liderança, que tem a função primordial de apoiar seu time e assumir a responsabilidade de liderança cuidadora.
Não é difícil imaginar, a partir dessa perspectiva, que uma postura assim é inspiradora, cativante e engajadora. As sementes para relações organizacionais cooperativas, aliás, são cultivadas justamente nesse terreno de propósito comum.
Na prática, a liderança cuidadora está nos detalhes – e eles fazem toda a diferença.
Robson Nunes #cuidedasuaequipe